Número de baleias francas no sul do Brasil aumenta nesta temporada
CRIS GUTKOSKI
Colaboração para UOL Viagem, em Garopaba (SC)
Colaboração para UOL Viagem, em Garopaba (SC)
Setembro traz cores novas na Terra e uma boa notícia no mar: o mês significa o auge do período de migração das baleias francas da Antártida para as praias de Santa Catarina, onde elas aproveitam as águas claras para acasalar, parir e amamentar os filhotes. Neste mês, um sobrevoo de monitoramento dos mamíferos realizado pelo Projeto Baleia Franca avistou 172 baleias desde o sul de Florianópolis até Torres, ao norte do Rio Grande do Sul.
É o segundo maior número de baleias registrado nos 29 anos de pesquisas do Projeto Baleia Franca. Em 2006, foram contados 194 cetáceos, adultos e filhotes. Em 2008, também em sobrevôo de helicóptero, foram 156 e, no ano passado, 102 baleias francas.
O número expressivo de agora confirma que a população da espécie está crescendo no hemisfério sul, e encheu de alegria os biólogos e pesquisadores de baleias. “Os números são resultado do nosso esforço de quase três décadas para a conservação da espécie", afirma a bióloga Karina Groch, diretora de pesquisa do Projeto Baleia Franca.
Veja imagens das baleias no litoral catarinense
A curiosidade das baleias francas faz com que elas se aproximem das embarcações para observar os seres humanos Enrique Litman/Divulgação
No grande grupo de cetáceos avistados e fotografados pelo analista ambiental Paulo Flores, do Centro Mamíferos Aquáticos/ICMBio, destacam-se 48 pares de baleias-mães com filhotes nascidos recentemente, em águas brasileiras do Oceano Atlântico, mais 70 baleias adultas, machos e fêmeas, não acompanhadas de filhotes, e ainda sete animais juvenis.
“O nascimento de 48 filhotes este ano é fundamental para dar continuidade à recuperação populacional que observamos nos últimos anos”, salienta Karina Groch. Segundo os registros do PBF, em 2007 nasceram 54 baleias francas em Santa Catarina, ou praticamente uma por dia, considerando o período de final de julho a setembro. As francas retornam para a Antártida em novembro.
Observação de baleias
Nesta temporada, a atividade de “whale watching” (observação de baleias) para turistas está sendo realizada por duas operadoras com sede na cidade de Garopaba, a 70 km de Florianópolis. As saídas são diárias, em horários variados, dependendo das condições de clima e das marés.
A operadora Vida Sol e Mar é parte do Instituto Baleia Franca, uma ONG que também monitora o comportamento dos animais marinhos e foi pioneira nos passeios embarcados na região, desde 1998. No ano passado, transportou 1.740 turistas para ver baleias em alto mar, sendo que 88% deles eram brasileiros, vindos sobretudo de Santa Catarina, São Paulo e Paraná. A Base Cangulo é vizinha do IBF na rua Manoel de Araújo, à beira-mar, no centro histórico de Garopaba. As duas operadoras oferecem palestras antes dos passeios, com informações sobre as características e o comportamento das francas.
“Mas dá pra ver a baleia bem de pertinho"? Antes mesmo de colocar os coletes salva-vidas, a pergunta se faz freqüente entre os adultos e crianças que experimentam pela primeira vez essa modalidade de turismo de aventura. Os mamíferos são animais curiosos e, entre as baleias francas, é grande a possibilidade de que elas se aproximem lentamente da embarcação, depois que os motores são desligados.
Prepare-se, portanto, para uma visão inesquecível: o corpo de uma franca adulta, que pesa entre 30 e 50 toneladas, chega a ter 16 metros de comprimento. Equivale ao tamanho de um ônibus e meio, solto em alto mar, emitindo sons, esguichando água, sacudindo nadadeiras dorsais e uma cauda com quase 5 metros de envergadura.
Na praia da Ferrugem, baleias francas se aproximam da costa entre julho e novembro
Com sorte, os machos, mães e filhotes vão brincar e emergir nas proximidades do barco, mas nunca há certeza da aproximação. As baleias francas que visitam o Sul do Brasil a cada ano estão livres em ambiente selvagem e fazem o que querem, não são amestradas, como as baleias que nadam e saltam nas piscinas dos parques da Flórida.
Os filhotes são comilões, bebem cerca de 200 litros de leite por dia. Eles já nascem com cerca de 4 metros de comprimento, com duas ou três toneladas de peso. Os bebês batem a cabeça no corpo da mãe para pedir alimento e um leite grosso, gorduroso, jorra das glândulas mamárias para a boca do filhote.
Do Brasil à Antártida
Nos meses em que freqüentam o enorme berçário natural do litoral brasileiro, de julho a novembro, as francas ensinam os filhotes a nadar, respirar, saltar e a ganhar resistência. A decisão da viagem de volta, para as ilhas Geórgia do Sul da Antártida, é um momento delicado, que antecipa uma prova brutal de resistência física para mãe e filho.
“A decisão do retorno depende de um balanço entre a condição física do filhote e a condição nutricional da fêmea”, explica a bióloga do Projeto Baleia Franca. “A fêmea permanece aqui o tempo necessário para que o filhote engorde e desenvolva habilidades de natação e manutenção do contato com a mãe, mas ao mesmo tempo ela necessita ter reserva na forma de gordura suficiente pra resistir à viagem até a Antártida”.
Na maratona de milhares de quilômetros rumo ao sul gelado do planeta, o filhote é apenas um bebê de três ou quatro meses, acostumado a comer e a brincar. Se ele se perde da mãe, confundido por predadores, pelas tempestades ou pela poluição sonora das grandes embarcações, morre de inanição.
A baleia franca produz esguicho quando emerge à superfície para respirar
Ao mesmo tempo, a baleia adulta está com fome e exaurida pelas funções da maternidade. Para estes mamíferos, o período na costa brasileira é de completo jejum, as francas só se alimentam na Antártida, de um crustáceo minúsculo chamado krill. Os biólogos contam que os cetáceos adultos emagrecem e começam a mostrar os ossos sob a pele, a partir de outubro e novembro. Baleias sim, gordas não.
Segundo Karina Groch, nesta temporada as baleias estão concentradas em algumas enseadas de Garopaba e Paulo Lopes, com as praias de Siriú e Gamboa, e também na cidade vizinha de Imbituba, nas praias de Ibiraquera, Ribanceira e Itapirubá. Há concentrações eventuais na Praia do Rosa, na Praia do Porto e em Laguna. Todo esse trecho do litoral pertence à Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, criada por decreto em 2000, abrangendo nove municípios e cerca de 130 km de costa, praias e lagoas, desde o sul de Florianópolis até o balneário de Rincão.
No Brasil, a caça às baleias está proibida por lei federal desde 1987. A medida ajudou a evitar a extinção da espécie. No hemisfério norte, as francas boreais estão praticamente em processo de extinção, o número total não ultrapassa atualmente os 500 indivíduos. A APA da Baleia Franca é administrada pelo Instituto Chico Mendes.
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