terça-feira, 4 de outubro de 2011

ANDALUZIA - Espanha



 
Andaluzia revela a riqueza cultural e arquitetônica da presença moura na Espanha

Terra do flamenco, das touradas, das mulheres à beira de um ataque de nervos, com seus vestidos vermelhos e leques bordados, a Andaluzia é a verdadeira representação do que o mundo imagina do povo espanhol. Gente de sangue quente, cigano, que convive com história, tradição religiosa e alegria mundana, sempre regada a bons azeites, vinhos e incomparável gastronomia.

Ocupando boa parte da porção sul da Espanha, a Andaluzia tem a extensão de Portugal e é uma das regiões mais importantes da Espanha. É também a memória viva da presença muçulmana na Península Ibérica, ou ?Al-Andalus?, como foi batizada pelos invasores do norte da África no século 8.

Um dos principais destinos turísticos do país, a região atrai gente de todo mundo, em busca do sol e belas praias no verão, em paraísos como Cádiz e Málaga. Mas é no interior que a Andaluzia revela porque continua sendo um dos lugares mais fascinantes de toda a Europa.

Desde a antiguidade, a Andaluzia ocupa um papel histórico importante para diversas civilizações. Sevilha, a quarta maior cidade da Espanha, tem nada menos que 2800 anos de fundação, palco de disputas entre gregos e fenícios, atraídos pelas riquezas minerais do entorno e das terras férteis às margens do rio Guadalquivir (?Rio grande?, em árabe), que corta a metrópole.

No século 2 a.C., os romanos a batizaram de Hispania, tornando-a a capital da península. Finalmente no século 11 os árabes deram o nome mais próximo de sua versão atual, Ysvilia. Na retomada do poder pelos cristãos, Sevilha conquistou ainda mais importância, tornando-se o principal porto de chegada das riquezas do Novo Mundo, símbolo do poder espanhol na chamada Época de Ouro do império espanhol. Foi das margens do Guadalquivir que o genovês Cristóvão Colombo partiu para a América e o português Fernão de Magalhães iniciou a primeira circunavegação do globo terrestre.

Difícil não reparar os traços de todo esse caldo cultural pelas ruas de Sevilha, seja por resquícios da era romana ou a herança da arte muçulmana estampada nos belíssimos trabalhos de azulejaria que ainda decoram a maioria das casas, pátios e edifícios públicos. Repleta de laranjeiras - outra vital contribuição moura -, uma das principais atrações da cidade é sua catedral, vista de todas as partes pela imponência da Giralda, o antigo minarete islâmico transformado em campanário pelos cristãos.

Mas Sevilha também é conhecida por revelar o espírito festivo da Espanha contemporânea, como o tradicional bairro de Triana, repleto de bares, intensa agitação noturna e berço de grandes músicos e dançarinos de flamenco. A cidade é ainda famosa por abrigar algumas das procissões e festas religiosas mais famosas de todo o país.

Em uma época de tensões entre as três grandes religiões monoteístas do Ocidente e Oriente Próximo, Córdoba mostra que a relação entre esses povos não só foi muito mais harmoniosa no passado, como capaz de criar um modelo único convivência, expresso em uma riqueza cultural e arquitetônica sem paralelo. Em tempos mais remotos, foi usada ainda como uma espécie de cidade de veraneio por romanos ilustres, sendo berço de grandes personalidades, como o filósofo estóico Sêneca.

Foi durante a ocupação moura, contudo, que Córdoba atingiu seu apogeu. O esplendor da cultura islâmica é representado pela Grande Mesquita, a maior do gênero em solo europeu. Embora tenha sido transformado em catedral, o edifício ainda conserva 856 das 1023 colunas originais, erguidas ao longo de dois séculos. Sua importância para a cultura árabe é tão grande que o templo recebe milhares de visitantes muçulmanos todos os anos.

Tratada pelos monarcas mouros como exemplo de tolerância religiosa, Córdoba permitiu durante séculos a maciça presença de cristãos dentro das defesas da cidade, que gradativamente foram adquirindo os hábitos dos ocupadores, tornando-se os chamados moçárabes, com uma riquíssima contribuição no mundo das artes.

Mais bem aceitos pelos novos senhores que em relação aos antigos cristãos, os judeus também encontraram sua época de ouro na Espanha durante a ocupação moura. O bairro da Juderia ainda guarda uma das três únicas sinagogas existentes na Espanha. Durante a era muçulmana, os judeus ocuparam papel relevante no governo e nas artes. Um dos maiores pensadores da religião judaica, o filósofo Maimônides, é natural de Córdoba.

Menor e talvez a mais charmosa de todas, Granada, com seu clima de montanha, hospeda a maior obra arquitetônica do período da invasão moura, a Alhambra. Trata-se de um conjunto de palácios, entrecortados por jardins, fontes e pontes, erguidos no alto de um morro que dá vista para a cidade e um belíssimo vale. Combinação de fortaleza e sede de governo, a Alhambra representa o último bastião da presença árabe, até que, em 1492, os cristãos tomaram Granada e expulsaram definitivamente os mouros - e judeus - da Península Ibérica, depois de mais de 700 anos de ocupação.

Essa mistura de história, arte e encontro de civilizações, temperada pelo espírito alegre do seu povo, clima quente e as belas paisagens, faz da Andaluzia destino obrigatório para quem quer conhecer um pouco mais do complexo mosaico de culturas que formam não só as diferentes ?Espanhas?, mas toda a Europa.



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