sexta-feira, 14 de outubro de 2011

BOA VISTA - RR, Brasil



 
Boa Vista, a capital do verde e distante estado de Roraima, é a Amazônia que o Brasil ainda desconhece

Avenidas planejadas, calçadas bem alinhadas com poucos pedestres e concentração de edifícios públicos em um mesmo setor. Essa paisagem até parece o cenário castigante de Brasília, mas seu entorno é capaz de oferecer muito mais do que a aridez da capital federal do país.

Boa Vista é aquela típica cidade que todo brasileiro sabe que existe, mas que pouco (ou quase nada) conhece. É dona de um visual amazônico digno de folclore indígena; conta lendas e histórias, deliciosamente, absurdas; possui um discreto e compacto centro histórico que guarda, nostálgico, lembranças da época do "milagre amarelo" do garimpo; e ainda é habitada por uma população local, cuja simpática receptividade faz o viajante esquecer as longas distâncias que a separam dos grandes centros urbanos do Brasil.

Considerada o povoado urbano mais antigo de Roraima, a cidade começou a dar as caras no século 19 quando fazendas foram instaladas às margens do rio Branco e seus afluentes. Surgia então a Freguesia de Nossa Senhora do Carmo que, poucas décadas mais tarde, receberia seu nome atual.

No entanto, a total independência da jovem cidade, que esteve subordinada ao governo do Amazonas até 1943 e foi capital do Território Federal do Rio Branco, só aconteceu no final dos anos 1980 com a criação do Estado de Roraima.

Mesmo assim, a irrequieta adolescente não se acomodou em meio a leis e decretos que tentavam inventar uma nova identidade para aquelas terras de fortes origens indígenas e tratou de criar a sua própria história.

Em 1944, bebeu na fonte parisiense para criar um planejamento urbanístico, baseado no Arco do Triunfo da capital francesa, em forma de leque, onde 14 largas avenidas terminam seu curso no Centro Cívico da cidade. Quarenta anos mais tarde, Boa Vista viu suas ruas crescerem, novamente. Mas agora seus excessos eram resultado da massa de migrantes que chegava à cidade com olhos voltados para as pedras de diamantes e ouros, abundantemente, encontradas nos igarapés das serras de Roraima. Na época, aquele movimento alucinado de homens e instrumentos rústicos rendeu ao aeroporto de Boa Vista o título de terminal aéreo mais movimentado de todo o país. Ironicamente, Roraima é o estado menos populoso do Brasil.

Porém, a maior (e melhor) obra da capital do estado mais ao norte do país ainda é o seu amazônico entorno natural que, desde o século 16, já atraía expedições de viajantes estrangeiros em busca do lendário El Dorado. Infinita savana que se desenrola como tapete aos pés de Boa Vista; rios que trazem e levam embora, na época das chuvas, bancos de areias que se tornam douradas praias de água doce; além de um número infinito de animais e plantas que só a região mais cobiçada do planeta pode oferecer.

E vá se acostumando com a variedade. Linguística, sobretudo. Tucunaré, pirarucu, aruanã, buriti, pupunha e taperebá, certamente, cruzarão o seu caminho (ainda que seja na mesa de algum restaurante típico) durante a sua visita à cidade.

Mas Boa Vista começa a ficar pequena quando a intenção é ver de perto o que atraiu tantos olhares estrangeiros, ao longo dos séculos. A cidade é ponto de partida para viajantes que desejam alcançar o topo do Monte Roraima que, embora esteja a 300 km e tenha entrada permitida apenas pela vizinha Venezuela, é o principal cartão postal do estado e exige do visitante disposição para caminhar, pelo menos, durante cinco dias.

A Serra Grande, a apenas 38 km da capital roraimense, é a alternativa para quem chegou tão longe e não quer perder a oportunidade de ter o gosto amazônico carimbado na alma.

Localizada no município de Cantá, a região conta com um dos passeios mais belos e aventureiros dos arredores de Boa Vista. Trilhas de pedras, corredeiras, fauna e flora amazônicas são algumas das opções dessa aventura que costuma atrair viajantes preparados para caminhar por áreas rochosas e de mata fechada.

O ponto máximo da escapada é o topo dessa serra que oferece uma paralisante (e energizante) vista panorâmica da região serrana e que serve de base aos visitantes que decidem passar a noite na selva, em um acampamento selvagem improvisado.

E é lá do alto, acompanhado de uma variedade sonora que só uma região amazônica pode oferecer, que o viajante se dá conta que ainda falta muito para conhecer do Brasil.


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