terça-feira, 4 de outubro de 2011

JOHANNESBURGO - África do Sul, Sede "Copa do Mundo" 2010



 
Johannesburgo e Pretória são as vibrantes e multiculturais anfitriãs de um mundo chamado África do Sul
 
Dizem que quando Nelson Mandela mudou-se para uma mansão de um subúrbio chamado Houghton, em 1999, ficou desaparecido no bosque da região durante duas horas. A família preocupou-se e nem seus seguranças puderam encontrá-lo.

Mas o que ninguém sabia é que o ex-presidente, um dos líderes negros mais importantes do mundo, saíra pela vizinhança para convidar os moradores locais para uma tarde com chá em sua nova casa.

Com essa mesma surpreendente simpatia, os habitantes da província de Gauteng, onde Johannesburgo e Pretória estão localizadas, recebem os visitantes que chegam à principal porta de entrada da África do Sul.

Basta pará-los na rua para pedir alguma informação. Seus olhos negros logo fixam os do interlocutor estrangeiro e um inglês de sotaque carregado explica, em detalhes, o caminho a ser seguido. E não estranhe se um deles se oferecer para acompanhá-lo até o destino final.

Famosa por seu passado turbulento de agressivas leis separatistas e sua onda de violência que ainda assusta locais e turistas, Johannesburgo é mesmo capaz de surpreender. Esqueça todas as descrições pessimistas que você já leu sobre a região e deixe-se levar pela vibração alucinada da cidade sem se esquecer que o centro econômico e industrial do país possui quatro milhões de habitantes e ainda carrega consigo todos os males dignos de uma grande metrópole. Quem já esteve em São Paulo, Buenos Aires ou Nova York vai se sentir em casa. E quem nunca esteve, também.

E esse parece ser o ritmo adotado pela cidade desde que o primeiro ouro foi descoberto naquela imensa savana desolada, em 1886, e deu início a uma frenética corrida por diamantes e outras pedras preciosas.

Joburg, apelido carinhoso dado pelos sul-africanos, possui uma vasta programação que nem sempre cabe na agenda daqueles que a vêem apenas como uma parada para conexões aéreas ou reuniões de negócios.

Boa gastronomia e intensa vida noturna nos bares e restaurantes descolados dos subúrbios do norte, como Melville e Melrose Arch; arquitetura imponente que começa a ser redescoberta na cêntrica região de Newtown; e uma infinidade de bons museus e centros culturais que recontam os últimos milhões de anos do continente e suas culturas complexas.

Embora a democratização do país tenha sido marcada pela eleição de Nelson Mandela, em 1994, o país ainda não curou as feridas deixadas pelo apartheid, palavra de origem africâner que significa "separação", um sistema racista que começou a ser (mal) desenhado pelos "engenheiros" brancos desde a criação da União Sul-Africana, em 1910, e intensificado com a eleição do Partido Nacional, em 1948.

O visitante não passará imune por Johannesburgo. É ali que se concentram atrações de forte valor histórico como o Constitution Hill, o Apartheid Museum e o Soweto, subúrbio de Johannesburgo que abriga a construção simples da antiga casa de Mandela e o Hector Pieterson Memorial Museum, um museu dedicado a outra figura negra ligada à resistência ao separatismo racial.

Se o passado negro, no sentido mais literal da expressão, orienta a história e o turismo de Johannesburgo, a vizinha Pretória abusa de todas as cores para fazer dessa uma das cidades mais agradáveis de toda a província.

A cenográfica capital administrativa da África do Sul abriga imponentes edifícios oficiais de tons amarelados erguidos sobre uma colina, conhecidos como Union Buildings, e uma infinidade de jacarandás trazidos do Brasil que, na primavera, costumam dar um show cromático. Os membros do grupo Ndebele, nos arredores da cidade, completam a viagem com seus coloridos desenhos geométricos.

Porém, os contrastes não são apenas de apelo visual, mas cultural. Foi ali que bôeres, fazendeiros de origem europeia, ergueram um impressionante monumento para proteger a região de possíveis ataques após uma longa travessia pelo país, conhecida como a Grande Marcha, para fugirem dos colonizadores ingleses da região do Cabo.

Em Pretória, todas as velhas imagens sobre a África selvagem dão lugar a um cenário jamais imaginado para o país. Casarões do século 19 com bem cuidados jardins, habitantes brancos de origem holandesa, francesa e alemã, e uma harmoniosa mistura linguística que inclui idiomas africanos, orientais e o africâner, uma espécie de holandês sul-africano. Os navegantes vindos da Holanda foram os primeiros a fundar um forte na região onde, atualmente, localiza- se a província do Cabo.

Quem visita Johannesburgo e Pretória, logo percebe as diferenças entre as duas cidades. De um lado, uma vibrante selva de concreto que não para de crescer e já é considerada uma das maiores potências do continente. Do outro lado, a pouco mais de 50 km, a cidade que um dia fora palco de batalhas sangrentas entre bôeres e zulus dá lugar a um pacato e imenso jardim público que acolhe seus visitantes.

Mas o melhor delas ainda é o seu povo e suas vozes de sotaques vindos de todas as partes do mundo. E o único (agradável) risco que o visitante corre é o de ser convidado para tomar um chá, qualquer tarde dessas, em algum bosque da região.





Nenhum comentário:

Postar um comentário