sexta-feira, 7 de outubro de 2011

RIO BRANCO - AC, Brasil




A Amazônia se revela em Rio Branco, por meio de um povo que vive em sintonia com a floresta
Em 1882, um arbusto de uma árvore conhecida como gameleira chamou a atenção de um explorador cearense que subia o rio Acre, levando-o a abrir ali mesmo um seringal chamado Volta da Empresa. Mais de um século depois, a centenária árvore, com mais 20 metros de altura e 2,5 metros de diâmetro, permanece intacta e marca o exato lugar onde nasceu Rio Branco, a capital do Acre.

Apesar de destino pouco procurado pelos turistas, a cidade tem muito a oferecer. Nos últimos anos, governo e instituições privadas têm investido na revitalização das suas construções históricas, na criação de novos espaços de lazer e cultura e na valorização do saber tradicional da sua gente, que convive com a maior floresta tropical do mundo, a amazônica.

Visitar a capital acreana significa conhecer episódios importantes da história do norte do Brasil: a selva desbravada por valentes nordestinos nos tempos áureos da extração da borracha, a saga de um povo que lutou para ser brasileiro e o sonho de Chico Mendes (1944-1988), um líder assassinado em nome da luta pela conservação do meio ambiente e pela união dos povos da floresta.

Cortado pelo rio Acre, a cidade tem seu centro dividido em duas partes, denominadas primeiro e segundo distritos. À margem direita, estão as primeiras construções, depois que o seringal virou povoado, e nela se estabeleceu o comércio que serviu para abastecer as embarcações que transportavam o "ouro negro", no início do século passado. A antiga área portuária, conhecida hoje como calçadão da Gameleira, foi reurbanizada, e seus casarões transformados em bares, restaurantes e centros culturais, tornando-se o principal ponto de encontro das noites quentes da cidade. Do outro lado do rio, o Mercado Velho é outra atração que faz parte do projeto de restauração dos espaços históricos.

O acreano tem orgulho da sua história, que começa em 1895 quando uma comissão demarcatória definiu os limites entre Brasil e Bolívia. Determinou-se que a Bolívia ficaria com uma região rica em látex, na época ocupada por brasileiros. O governo boliviano pretendia expulsar a população e entregar o território às poderosas empresas estrangeiras que exploravam a borracha. O desejo da elite regional de incorporar essas terras ao Brasil desencadeou conflitos armados conhecidos como Revolução Acreana, que resultou na criação do Estado Independente do Acre, em 1903. O nome da cidade é uma homenagem ao diplomata Barão do Rio Branco, que teve papel fundamental nesse processo. O território permaneceu nessa condição política até a sua elevação a federação brasileira, em 1962. Para conhecer os detalhes dessa história, o Memorial dos Autonomistas reúne um acervo de fotos, esculturas e quadros sobre esse período de revoltas.

Quando se fala em Acre a primeira idéia que vem a cabeça é a luta do seringueiro e ativista ambiental Chico Mendes (
leia a biografia). Vale se deslocar até a cidade do líder, Xapuri (a 188 km da capital), para conhecer a sua casa, que, apesar de ter passado por uma reforma, preserva as suas características originais.

Mas a história do Acre não se resume à exploração da seringa. Muito antes de o território ser ocupado por seringueiros cearenses e comerciantes sírio-libaneses, o lugar era habitado pelos povos indígenas. Inclusive, o nome do Estado surgiu da tradução da palavra aquiri, que significa "rio dos jacarés" na língua nativa dos índios apurinãs, um dos grupos originais da região. A Biblioteca da Floresta Ministra Marina Silva tem, entre seus objetivos, preservar a memória cultural desses povos. Para entrar de cabeça, agências locais também oferecem roteiros até algumas comunidades.

A população de Rio Branco, que tem cerca de 300 mil habitantes, é resultado da mistura de índios, nordestinos, negros e árabes. E, apesar da mescla, cultiva um profundo sentimento de identidade cultural, que é chamado pelo próprio povo de "acreanidade". Outro termo surgido no Acre é a florestania, união das palavras "floresta" e "cidadania" e que serve para descrever as diversas formas de se viver na Amazônia. Uma expressão muito forte dentro desses dois conceitos é o Santo Daime, uma religião nascida na floresta do Acre.

A capital mais ocidental do país também é a porta de entrada para a integração com os vizinhos andinos Bolívia e Peru. Com a construção da rodovia Interoceânica, que liga Rio Branco à cidade inca de Cusco, no Peru, a Secretaria de Turismo do Estado resolveu promover o roteiro Caminhos do Pacífico, que convida o visitante a desfrutar de uma viagem com uma paisagem única: a transição entre a Amazônia e os Andes.

Rio Branco representa um pedaço do Brasil ainda desconhecido. De tão distante, o dicionário "Aurélio" um dia usou a expressão "ir para o Acre" como sinônimo do verbo morrer. Mal sabia Aurélio que o lugar significa vida: 90% das florestas, rios e lagos do Estado estão preservados e alguns pesquisadores afirmaram que a área concentra a maior biodiversidade do planeta. Para acabar com esse mal entendido, o povo da floresta convida a todos a conhecer como se vive em harmonia com a natureza.



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